A Rota

Terras de Lobos e de Lagos

São agrestes e belas, as serras onde os lobos correm, onde se ouve o bramir dos veados, onde as estradas são atravessadas por corços e texugos, onde as lontras nadam em rios límpidos e os céus são cruzados por aves magníficas, como a águia-real ou o falcão peregrino.

Assim é o Parque Natural de Montesinho, que acolhe oitenta por cento das espécies de mamíferos existentes em Portugal, vários exemplares de flora endémica e borboletas que só existem ali, num cenário onde as aldeias de pedra se recolhem à sombra de soutos frondosos, e prados de papoilas se transformam em searas douradas no verão.

É assim também o Parque Natural do Lago de Sanabria – o maior de origem glaciar de Espanha -, rodeado por picos imponentes, que a neve vem cobrir durante os meses mais frios. Ali, a água abundante, que alimenta lagoas, cascatas, rios e riachos, dá vida a 1500 espécies vegetais, dos mais frágeis narcisos às plantas carnívoras que crescem nas turfeiras.

Em Las Médulas, classificada como Paisagem Cultural pela UNESCO, a natureza voltou a tomar conta daquela que foi a maior exploração aurífera do Império Romano. O resultado é um cenário insólito, onde cones de terra de tom ocre se erguem acima de castanheiros centenários, numa harmonia surpreendente.

Em todos estes lugares, não faltam trilhos que nos guiam até aos recantos mais longínquos, aos pontos mais altos, às povoações mais pacatas. A cavalo, a pé, de bicicleta, em veículos todo-o-terreno, basta escolher onde queremos ir, a sós ou com guias que nos revelem todos os segredos. Na Serra da Culebra, onde vive a maior população de lobos da Europa Ocidental, há até quem nos leve em saída à procura deste mítico animal.

Os que preferem desportos aquáticos têm canoas à disposição nos rios e nos lagos, enquanto que as montanhas cobertas de neve são um convite irresistível à prática de esqui nórdico.

A viagem inicia-se em Bragança, ponto de partida ideal para explorar o Parque Natural de Montesinho. Das muralhas da cidade – que engloba joias da arquitetura medieval peninsular, como a insólita Domus Municipalis – pode observar-se o mosaico de cenários que compõem uma das maiores áreas protegidas de Portugal, dos extensos bosques de carvalho às searas de trigo, dos vales ribeirinhos aos cumes graníticos. Diversos percursos pedestres assinalados, bem como rotas de BTT de maior extensão, permitem cruzar estas paisagens, onde não é raro deparar com uma raposa ou avistar um corço a alimentar-se junto a um prado.

O itinerário automóvel que nos permite conhecer a variedade paisagística deste Parque Natural sai de Bragança pela N308 para, pouco depois, se deter perto da aldeia de Cova de Lua. Os lameiros da Ribeira de Covas são prados verdejantes, onde as cegonhas gostam de poisar. Segue-se Vilarinho, início do percurso pedestre do Ornal, que acompanha as margens do rio Baceiro, e Dine, de onde parte o trilho “Termas do Tuela”, que ora segue o rio com o mesmo nome, ora sobe até campos de cultivo sobrevoados por aves de rapina.

Cruzando pontes de pedra sobre rios cristalinos, atravessando pequenas aldeias, a viagem prossegue até Moimenta, junto à fronteira. Sobrando tempo, podemos atravessar as encostas graníticas da Serra da Coroa, até ao extremo poente do Parque Natural. Neste itinerário, a próxima paragem é Vinhais onde, além provar o excelente fumeiro, se aconselha a visita ao Parque Biológico, para conhecimento mais aprofundado da fauna e flora da região.

O regresso a Bragança faz-se agora pela N103, onde faremos um desvio para a estrada que segue para Castrelos e Carrazedo, aldeias situadas nas fraldas da Serra da Nogueira. Ali vamos encontrar a Estação de Biodiversidade de Carrazedo, trilho interpretativo com informação sobre as plantas e animais que aí podem ser observados, com especial incidência para o grande número de espécies de borboletas, algumas endémicas de Trás-os-Montes.

Em direção a Espanha, temos duas alternativas. Uma é seguir por Rio de Onor, curiosa aldeia transfronteiriça, que no lado espanhol toma o nome de Riohonor de Castilla. Vale a pena fazer ali uma paragem, para conhecer os dois núcleos da povoação de casas de xisto e tradições comunitárias. Em território de veados, com alguma sorte e olhar atento, é frequente encontrar os grandes cervídeos a deambular no fundo dos vales ou nas clareiras dos pinhais, sobretudo em meados de setembro, época da brama.

Na outra opção toma-se a estrada que corre ao longo do rio Sabor. Antes de chegar à fronteira de Calabor, encontra-se a aldeia de Montesinho, situada no sopé da serra com o mesmo nome, também digna de visita.

Seja qual for a via escolhida, chegaremos a Puebla de Sanabria para, a partir daí, seguir os caminhos que levam até ao maior lago de origem glaciar da Península, coração de um espaço protegido – o Parque Natural do Lago de Sanabria e Arredores.

Um dia aqui pode começar por um passeio pelo centro histórico da cidade, subindo as ruas que levam ao Castelo dos Condes de Benavente e a casas com varandas com vista para o rio Tera, cujo curso iremos seguir. Pouco depois de El Puente, encontra-se a Casa do Parque do Lago de Sanabria, onde ficamos a conhecer os habitats da área protegida, da margem do lago ao topo das montanhas.

Segue-se Galende, de onde podemos partir para explorar os caminhos que ligam a maioria das aldeias. Aconselha-se aquele que leva a Trefacio, seguindo um pequeno ribeiro, embora as opções sejam variadas. Dentro do Parque Natural, uma rede com mais de 100 quilómetros de caminhos tradicionais entre aldeias permite caminhar ao longo de riachos rodeados por aveleiras, passear em soutos frondosos, subir ladeiras abrigadas pelas sombras dos carvalhos, e até chegar a povoações mais isoladas, como San Ciprían ou Rábano de Sanabria. Os mesmos caminhos podem ser feitos em BTT e a cavalo, em passeios guiados que tanto podem demorar uma ou duas horas, como um dia inteiro.

As águas cristalinas do Tera, onde nadam as trutas que são uma das especialidades gastronómicas da região, guiam-nos até ao grande lago. Com 3 quilómetros de comprimento e 51 metros de profundidade, está cingido por encostas cobertas de carvalhos. Ali chegados, podemos fazer um desvio para norte, para conhecer as pequenas praias de Cañales e de El Folgoso, muito concorridas no verão mas um éden de tranquilidade no resto do ano.

A estrada prossegue pela margem sul, onde há mais praias e um porto de embarque para um barco de cruzeiro movido a energia eólica e solar. Canoas e caiaques são outra forma fantástica de aceder aos meandros do lago.

Passando por Ribadelago chega-se a Ribadelago Viejo, povoação destruída por uma rutura na represa do Rio Tera, que inundou e arrasou a maioria das suas casas em 1959. Os que não se mudaram para a nova localidade habitam hoje um lugar tranquilo, de onde partem vários trilhos de montanha. São veredas que nos levam a locais com vistas inusitadas, como a “Senda de los Monges” ou a “Senda do Cañon do Rio Tera”, que sobre rio acima, entre poços, lagoas e cascatas.

Os 17 trilhos de montanha assinalados variam na distância e nos níveis de dificuldade. Entre eles destaca-se o caminho que leva às cascatas de Sottillo e o percurso que ascende ao cume do Peña Trevinca, a montanha mais alta da província de Zamora, com 2127 metros de altitude.

O destino agora é San Martín de Castañeda, aldeia alcandorada na margem norte do lago, junto a um mosteiro fundado pelos monges da ordem de Cister, no século XII. Aí está situado o Centro de Interpretação do Parque Natural, com informações sobre a evolução do vale glaciar e os seus ecossistemas. Dali a estrada serpenteia montanha acima até à Laguna de los Peces, situada a 1700 metros de altitude.

Habitualmente coberto de neve durante os meses mais frios, o território circundante é ótimo para a prática de esqui nórdico, passeios com raquetes de neve, ou simplesmente descidas em trenó. No final da primavera, o degelo dá lugar a belos prados floridos que se atravessam no trajeto para a vizinha Laguna de la Yegua.

De regresso a Puebla de Sanabria, existem também duas alternativas para chegar a Las Médulas, conforme o gosto por vias mais ou menos rápidas. A mais curta segue pela A-52 (direção Ourense) até à povoação de A Gudiña, onde continua para a localidade de A Rúa, prosseguindo para O Barco para pouco depois chegar a Las Médulas.

Mais longa em distância, mas tomando praticamente o mesmo tempo (cerca de 2 horas), a outra via segue pela A-52 (direção Benavente) até à saída 29 onde partirá para La Bañeza. Aí apanha-se a A6 até Ponferrada. Las Médulas fica a 30 km dali.

Encostada aos parques naturais de Sanabria e de Montesinho, vale a pena fazer um desvio para conhecer a Serra da Culebra. Pertencendo à rede Natura 2000, a serra de cristas quartzíticas, abriga a maior população de lobos da Europa Ocidental, um grande número de veados, corços, texugos, gatos-bravos e raras aves de rapina. Além de passeios a pé ou em BTT e incursões em veículos todo-o-terreno, várias empresas organizam saídas para avistar uma das espécies mais misteriosas da fauna ibérica.

Existem também programas relacionados com a presença do lobo, seja a identificação de pegadas e dejetos, a observação das suas presas preferenciais (veados, corços e javalis) ou visita a exemplos de arquitetura tradicional, como os fojos de lobo e construções para proteger os rebanhos.

Escolhida como uma das sete maravilhas naturais de Espanha, Las Médulas foi em tempos uma grandiosa mina a céu aberto, a maior exploração aurífera do Império Romano. Hoje é um lugar de beleza excecional, que vale a pena explorar com vagar.

Para melhor perceber os métodos utilizados para retirar o ouro destas montanhas, deve começar-se por uma visita à Aula Arqueológica de Las Médulas, situada à entrada da pequena aldeia, cujos habitantes continuam a levar uma vida tranquila, entre a apanha das castanhas no outono e a criação de rebanhos. Seguimos pela “Senda de las Valiñas”, trajeto circular que percorre o centro da exploração mineira, entre bizarros pináculos alaranjados e castanheiros centenários, sempre acompanhados pelo crocitar das gralhas. Com 4 quilómetros de extensão, a vereda tem um declive suave e pode ser feito por pessoas de qualquer idade.

Um pouco mais difícil é a ascensão ao miradouro de Orellán, uma subida íngreme com mais de 200 metros de desnível, mas recompensada pelas vistas privilegiadas que se abarcam dali. Ao lado, fica a entrada para a galeria de Orellán, oportunidade única de conhecer os túneis escavados entre os séculos I e III. Quem quiser prescindir da caminhada, pode chegar até ali em veículo ligeiro.

A pé, de bicicleta ou a cavalo, podem percorrer-se muitos outros trilhos, seja o que abrange toda a área mineira, ao que nos leva ao vizinho lago de Somido. Recentemente, foram recuperados e abertos ao público uma parte dos canais romanos que transportavam a água das montanhas circundantes até ao centro da exploração. As visitas guiadas realizam-se aos fins de semana, a partir da localidade de Puente de Domingos Florez.

É junto a outro lago, o de Carucedo, que termina a viagem. Rodeado de castanheiros, salgueiros e juncos, o espelho de água formou-se quando o vale ficou fechado pelos depósitos de pedras e lodo provenientes das minas. Agora, é um paraíso para as aves aquáticas, que podem ser avistadas através dos observatórios situados nas margens. Resultado da ação humana, tal como em Las Médulas, dois mil anos depois a natureza reconquista o seu território.

Itinerários

Itinerário 2 dias – Lago de Sanabria e Las Médulas

Conheça duas das mais extraordinárias paisagens do norte de Espanha. Em Sanabria, embarque num cruzeiro ecológico e descubra os segredos do maior lago de origem glaciar da Península. Em Las Médulas, vai deixar-se arrebatar pela grandiosidade da maior exploração aurífera do Império Romano, que a UNESCO classificou como Património da Humanidade.

Dia 1

Hora Actividade
10:00 Sanabria – Visita à Casa do Parque do Lago de Sanabria (Galende)
12:00 Cruzeiro ambiental no Lago de Sanabria
13:30 Almoço em San Martin de Castañeda
Passeio junto a Ribadelago Viejo
16:30 Partida para Las Médulas
19:30 Chegada a Las Médulas

Alojamento em Ponferrada ou na aldeia de Las Médulas

Dia 2

Hora Actividade
10:00 Las Médulas – Percurso pedestre guiado no centro da exploração mineira (3,5 km)
Subida para o miradouro de Orellán
12:30 Visita às galerias de Orellán
13:45 Almoço em Las Médulas
Passeio junto ao Lago de Carucedo

Extensão do itinerário (Puebla de Sanabria/Las Médulas): 270 km

Notas:

  • Época ideal: A primavera e o outono são ideais para visitar. No inverno, os dois locais são igualmente bonitos, embora a região de Sanábria tenha temperaturas médias bastante baixas.
  • Las Médulas: Devido às ruas estreitas da aldeia de Orellán, um autocarro não chega até ao miradouro de Orellán; apenas veículos ligeiros ou minibus. Para um grupo grande, a alternativa é subir desde o centro da exploração até ao miradouro, por um trilho que tem um desnível de cerca de 200 metros. Apesar de íngreme, o caminho é curto e só não poderá ser feito por pessoas com algumas dificuldades motoras.

Itinerário 2 dias – Montesinho e Lago de Sanabria

Descubra as semelhanças e diferenças entre os parques naturais de Montesinho e do Lago de Sanabria, separados por uma fronteira, mas unidos na biodiversidade e na beleza das suas paisagens. Passeie em densos carvalhais, junto a rios cristalinos e por aldeias de pedra. O cruzeiro no lago é garantia de um final feliz.

Dia 1

Hora Actividade
08:30 Bragança – Partida para Dine
09:15 Percurso pedestre “Termas do Tuela”, entre as aldeias de Dine e Fresulfe (4 km)
Visita guiada ao Parque Biológico de Vinhais
13:15 Almoço em Vinhais
Partida para Puebla de Sanabria, via Bragança, com paragem na aldeia de Montesinho
Passeio pela aldeia de Montesinho.
18:30 Chegada a Puebla de Sanabria

Alojamento em Puebla de Sanabria

Dia 2

Hora Actividad
10:00 Sanabria – Visita à Casa do Parque do Lago de Sanabria (Galende)
Percurso pedestre em caminho tradicional entre as aldeias de Galende e Trefacio (3 km)
13:45 Almoço em San Martin de Castañeda
Passeio junto a Ribadelago Viejo
17:00 Cruzeiro ambiental no Lago de Sanabria
18:00 Final do cruzeiro

Extensão do itinerário (Bragança / Lago de Sanabria): 191 km

Notas:

  • Época ideal: A primavera e o outono são ideais para visitar. No inverno, os dois locais são igualmente bonitos, embora a região de Sanábria tenha temperaturas médias bastante baixas.
  • Montesinho – para o trilho pedestre “Termas do Tuela”, o autocarro deixará os viajantes na aldeia de Dine para as recolher junto à aldeia de Fresulfe, evitando que tenham de fazer o percurso circular, com o dobro da extensão. Em certos locais junto ao rio há que avançar com cuidado por cima de raízes e de algumas pedras. Embora não apresente dificuldade, aconselha-se o uso de calçado resistente e antiderrapante.
  • Sanabria – Tal como acima, o autocarro deixará os viajantes na aldeia de Galende para as recolher junto à aldeia de Trefacio. Neste caso, o caminho é largo e plano.

3 dias – Parque Natural de Montesinho, Lago de Sanabria e Las Médulas

Por terras de lobos e de lagos, há paisagens deslumbrantes, que tão cedo não irá esquecer. Explore os trilhos do Parque Natural de Montesinho e descubra porque chamam Reino Maravilhoso à região de Trás-os-Montes. Conheça Sanabria e o seu lago, aninhado entre picos imponentes, e continue para Las Médulas, onde irá deambular por uma das sete maravilhas naturais de Espanha.

Dia 1

Hora Actividade
08:30 Bragança – Partida para Dine
09:15 Percurso pedestre “Termas do Tuela”, entre as aldeias de Dine e Fresulfe (4 km)
Visita guiada ao Parque Biológico de Vinhais
13:15 Almoço em Vinhais
Partida para Puebla de Sanabria, via Bragança, com paragem na aldeia de Montesinho
Passeio pela aldeia de Montesinho.
18:30 Chegada a Puebla de Sanabria

Alojamento em Puebla de Sanabria

Dia 2

Hora Actividade
10:00 Sanabria – Visita à Casa do Parque do Lago de Sanabria (Galende)
12:00 Cruzeiro ambiental no Lago de Sanabria
13:30 Almoço em San Martin de Castañeda
Passeio junto a Ribadelago Viejo
16:30 Partida para Las Médulas
19:30 Chegada a Las Médulas

Alojamento em Ponferrada ou na aldeia de Las Médulas

Dia 3

Hora Actividade
10:00 Las Médulas – Percurso pedestre guiado no centro da exploração mineira (3,5 km)
Subida para o miradouro de Orellán
12:30 Visita às galerias de Orellán
13:45 Almoço em Las Médulas
Passeio junto ao Lago de Carucedo

Extensão do itinerário (Bragança/Las Médulas): 415 km

Notas:

  • Época ideal: A primavera e o outono são ideais para visitar. No inverno, os dois locais são igualmente bonitos, embora a região de Sanábria tenha temperaturas médias bastante baixas.
  • Montesinho : para o trilho pedestre “Termas do Tuela”, o autocarro deixará os viajantes na aldeia de Dine para as recolher junto à aldeia de Fresulfe, evitando que tenham de fazer o percurso circular, com o dobro da extensão. Em certos locais junto ao rio há que avançar com cuidado por cima de raízes e de algumas pedras. Embora não apresente dificuldade, aconselha-se o uso de calçado resistente e antiderrapante.
  • Las Médulas: Devido às ruas estreitas da aldeia de Orellán, um autocarro não chega até ao miradouro de Orellán; apenas veículos ligeiros ou minibus. Para um grupo grande, a alternativa é subir desde o centro da exploração até ao miradouro, por um trilho que tem um desnível de cerca de 200 metros. Apesar de íngreme, o caminho é curto e só não poderá ser feito por pessoas com algumas dificuldades motoras.

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